Antropofagia
No dia 11 de janeiro de 1928, a pintora Tarsila do Amaral oferece a Oswald de Andrade, como presente de aniversário, uma de suas recentes pinturas, sem saber que ela viria a ser a propulsora de uma das mais originais formulações teóricas sobre a natureza específica da arte moderna brasileira. Enquanto contemplava aquele estranho homem pintado por Tarsila, de pés enormes fincados na terra, cuja pequena cabeça parece apoiar-se melancolicamente em uma das mãos, cercado por um ambiente seco e quente, tendo como testemunha apenas o céu azul, o sol e um misterioso cacto verde, Oswald de Andrade foi indagado por seu amigo e escritor Raul Bopp, que o acompanhava na observação: "Vamos fazer um movimento em torno desse quadro?". Abaporu, 1928, que em tupi-guarani significa "antropófago", foi o nome escolhido para aquela figura selvagem e solitária.
Funda-se em seguida o, Clube de Antropofagia, juntamente com a Revista de Antropofagia, em que é publicado o Manifesto Antropofágico escrito por Oswald de Andrade como o cerne teórico do movimento nascente, que se dissolve com a separação entre ele e Tarsila, em 1929. Com frases de impacto, o texto reelabora o conceito eurocêntrico e negativo de antropofagia como metáfora de um processo crítico de formação da cultura brasileira. Se para o europeu civilizado o homem americano era selvagem, ou seja, inferior, porque praticava o canibalismo, na visão positiva e inovadora de Andrade, exatamente nossa índole canibal permitira, na esfera da cultura, a assimilação crítica das idéias e modelos europeus.
O Manifesto Antropofágico foi inspirado nas tribos indígenas do Brasil (antes do "descobrimento")
Partindo do ritual de antropofagia praticado pelos índios Tupinambá no período pré-colonial, e enriquecido por suas leituras de Montaigne, Nietzsche, Freud e outros pensadores, Oswald de Andrade (São Paulo, 1890-1954) criou a metáfora cultural da Antropofagia.
Outros artistas também participaram do movimento antropofágico, como Raul Bopp, Tarsila do Amaral e Patrícia Galvão, a Pagu.
Carolina Leite
Nenhum comentário:
Postar um comentário